Antes de mais nada, o Fiat Uno Mille, lançado em 1990, foi o primeiro carro popular que abriu mão de ajustes de banco. Surgiu como resposta barata aos carros importados, inaugurando o segmento dos populares.

Características como ar-condicionado, vidros elétricos e direção hidráulica não eram comuns em carros compactos na época. O Fusca “Pé de Boi” e o Renault “Teimoso” exemplificam a simplicidade que o brasileiro estava acostumado.

Tudo mudou com o Fiat Uno Mille. A redução do IPI para motores menores de 999cm³ despertou o interesse das fabricantes nos populares 1.0. Essa mudança foi fundamental para movimentar a economia, aumentando o acesso da população a carros novos, impulsionando a indústria e gerando empregos.

A produção em maior escala também foi uma resposta à reabertura das importações de veículos, uma promessa cumprida pelo presidente Fernando Collor. Tal situação gerou momentos de tensão entre o governo e a indústria automobilística.

Em um período de cerca de três meses, em maio de 1990, o presidente Collor exigiu mudanças na indústria automotiva devido à cobrança de ágio em carros novos. A Fiat já tinha pronto o seu novo carro quando o plano foi implementado.

Vantagem para a Fiat?

A vantagem da Fiat foi que ainda produzia o motor de 1.050cm³ utilizado no 147. Embora não fosse tão popular no Brasil, esse motor ainda equipava unidades exportadas para outros países. Com pequenas modificações, como um novo virabrequim que reduziu o deslocamento para 994,4cm³ e ajustes na carburação e no comando de válvulas, o Uno Mille foi criado com rendimento aceitável

Embora parecesse externamente com o Uno S 1.3, trazia diferenciais como uma barra estabilizadora dianteira e um braço tensor mais robusto, características que só chegariam às outras versões do Uno em 1991. Por outro lado, o Uno Mille era bastante simples, lembrando carros da década de 1960.

O Uno Mille buscava a redução de custos não apenas por meio de impostos mais baixos, mas também removendo itens úteis. Exemplo disso era o câmbio de quatro marchas, sendo o de cinco uma opção paga à parte. Retrovisor direito, bancos dianteiros reclináveis com encosto de cabeça e lavador/desembaçador traseiro também eram opcionais.

O carro não possuía saídas de ar laterais, e o lavador do para-brisa era acionado por uma bombinha de borracha no pé do motorista, similar ao Fusca. Houve a possibilidade de tornar até o servofreio opcional, mas felizmente isso não ocorreu.

Os “luxos” presentes no carro eram o veludo na parte central dos bancos, as colunas traseiras forradas e o tampão do porta-malas – algo raro nos SUVs para PcDs hoje em dia.

Limitado mas atrativo!

Apesar das limitações, o preço final era atrativo em comparação aos concorrentes usados. O Uno Mille era bem camuflado nas ruas, passando facilmente por um Uno comum, o que contribuía para a sua aceitação.

O desempenho do Uno Mille era considerado satisfatório, devido à sua leveza (apenas 768 kg). No trânsito urbano, o usuário médio não notava diferenças em relação ao Uno S com motor 1.3. Apenas em situações de uso intenso em estradas com subidas longas e carga máxima, as limitações do motor de 1.000 cilindradas se tornavam evidentes.

O carro foi bem-sucedido, apesar de ter sido apontado com alguns defeitos, como o pequeno porta-malas, alto nível de ruído interno e poucos luxos. A concorrência demorou para apresentar alternativas. O Gol 1000 surgiu em 1992, o Chevette Júnior e o Ford Escort Hobby 1.0 em 1994, todos com desempenho mais lento em relação ao Uno Mille.

Os populares 1.0 tiveram êxito e chegaram a representar mais de 70% das vendas de carros novos em 2000, porém, atualmente, com os avanços tecnológicos, os motores 1.0 estão mais potentes e eficientes, sendo encontrados em uma variedade de modelos, desde compactos até SUVs.

Embora os carros de entrada estejam mais caros hoje em dia, há esperança de que um plano de incentivos governamentais possa reduzir os preços temporariamente. Tudo começou com a rápida adaptação do Uno Mille para se adequar às novas regras exigidas pelo governo na época, um processo que teve um impacto significativo nas vendas e no mercado automobilístico.

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